Congresso estuda piso nacional para agentes comunitários e de endemias
Comissão Especial da Câmara dos Deputados também analisa projetos de lei que instituem plano de careira, pagamento adicional por insalubridade e exigência de curso técnicoPerto de completar dez anos da regulamentação, por lei, da profissão, os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e os Agentes Comunitários de Endemias (ACE) intensificaram a luta por mais um benefício: o piso salarial. No dia 9 de junho, foi instalada, na Câmara dos Deputados, em Brasília, uma comissão especial para analisar o Projeto de Lei (PL) 7495/06, do Senado Federal, e outros 18 projetos apensados que propõem, em linhas gerais, além do piso nacional, mudanças como plano de careira, pagamento adicional por insalubridade e exigência de curso técnico para ACS e ACE. Junho foi um mês dedicado a reuniões de deputados com Ministério da Saúde (MS), Fundação Nacional de Saúde (Funasa), além de representantes das categorias, com o objetivo de acelerar um acordo e chegar ao fim do impasse que se estende por mais de um ano. A presteza do processo, no entanto, pode ficar comprometida, por envolver aumento de gastos para o Executivo, sobretudo, em período de cortes no orçamento e de adiamento da votação da Emenda 29 e da PEC 300.
A definição do piso está presente em seis dos 19 projetos de lei, com rendimentos que variam entre R$ 930 e R$ 1.090. Os agentes defendem o maior valor, porém pago de forma escalonada, a fim de reduzir o impacto no orçamento da União. Presidente da comissão especial que avalia o PL, o deputado Benjamin Maranhão (PMDB-PB) reconhece que, caso a proposta seja aprovada na Câmara e no Senado, as chances de veto presidencial são grandes, por isso, defende a elaboração de um projeto por parte do Executivo.
“É impossível realizar o pagamento integral agora. Esperamos que o Executivo estabeleça um projeto viável que será votado. A questão do custo previdenciário dos agentes também teria que ser resolvida. A prefeitura terá que pagar esses encargos. Iremos nos reunir com representantes dos estados e municípios para discutir essas medidas”, pontua.
Relator da comissão, o deputado Domingos Dutra (PT-MA) reforça a importância do projeto do Executivo para estabelecer o piso dos agentes. “É impossível votar na Câmara o que temos hoje. Matéria que implique despesa tem que ser iniciativa do Executivo”.
Presidente da Confederação Nacional dos Agentes Comunitários de Saúde (Conacs), Ruth Brilhante, está otimista em relação ao acordo com a presidenta Dilma Roussef. Segundo ela, apesar das outras medidas contidas nos projetos de lei, a principal reivindicação dos agentes é o piso salarial.
“Esperamos ter o piso nacional estabelecido até 4 de outubro, quando comemoramos o dia nacional do ACS. A negociação caminha bem e faremos reuniões nos estados e municípios para mobilizar os gestores também”, declara.
Impacto no orçamento
Segundo Benjamin, o impacto no orçamento ao longo dos anos de implementação do piso seria de R$ 1,6 bilhão. O deputado avalia que a aprovação do PL não interfere na votação da Emenda 29. “O impacto do piso salarial é um pingo d’água no oceano em relação ao orçamento. Trabalhando bem a atenção básica, com a valorização dos agentes, reduzimos internações e casos de média e alta complexidade, o que diminui os gastos médico-hospitalares”, aponta.
Atualmente, o Ministério da Saúde repassa, por mês, R$ 714 por Agente Comunitário de Saúde e Agente Comunitário de Endemias, como incentivo financeiro para os municípios pagarem os salários e encargos trabalhistas. O MS argumenta que, como qualquer outro trabalhador formal, o piso legal é o salário mínimo. O valor total do repasse previsto para 2011 é de R$ 2,85 bilhões para a Estratégia de Saúde da Família.
Há 14 profissões de saúde de níveis superior e médio com projetos no Congresso Nacional para estabelecimento de um piso salarial. De acordo com a coordenadora geral da Regulação e Negociação do Trabalho em Saúde do Ministério da Saúde, Lídice Araújo, se todos forem aprovados, a estimativa é que o impacto econômico seja de R$ 50 bilhões.
Um dos projetos para profissional de nível médio que tramita na Câmara é o PL 1187/11, da deputada Gorete Pereira (PR-CE), que institui piso salarial de R$ 1.020 para técnicos em saúde bucal (TSB) e de R$ 770 para auxiliares em saúde bucal (ASB). O valor para 40 horas semanais será reajustado anualmente pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). A profissão de técnico e auxiliar em saúde bucal foi reconhecida por meio da Lei 11.889/08, mas não institui piso salarial.
Mudanças em discussão
A profissão de Agente Comunitário de Saúde foi regulamentada, por meio da Lei 10.507, de 10 de julho de 2002 – alterada pela Lei 11.350 de 5 de outubro de 2006, que estabelece processo seletivo público para contratação.
O Projeto de Lei 7495/06, do Senado Federal, transfere os ACS e ACE para “o regime jurídico aplicado aos demais servidores da saúde do estado ou do município em que trabalham”. O PL estabelece ainda que as atividades desenvolvidas pelos agentes devem ser consideradas insalubres. O PL 7095/10, de Ribamar Alves, estabelece adicional de insalubridade de 20% a 40% e garante fornecimento de equipamentos aos agentes.
A Câmara analisa também o Projeto de Lei 7401/10, do deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que permite a contratação por meio de entrevista individual ou coletiva. A medida vai de encontro à Lei 11.350/06, que torna obrigatória seleção por concurso público. Já o PL 7056/10, do deputado Pedro Chaves (PMDB – GO), além de defender piso de R$ 1.020, exige a formação técnica de nível médio para todos os agentes. O Ministério da Educação (MEC) ficaria responsável por elaborar o plano de curso.
Por Beatriz Salomão (Secretaria Executiva de Comunicação da RET-SUS)
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